"Este filme é uma espécie de carta de amor que dirigi a Al Pacino"
No Festival de Veneza disse que O Senhor Manglehorn era um filme muito pessoal. Porquê?
Este filme é muito pessoal porque a sua abordagem é uma espécie de carta de amor que dirigi a Al Pacino. Foi feito de uma forma muito orgânica, criativa, fugindo a uma estrutura formal, ou seja, sem cair na narrativa tradicional, e em que procurei uma fluidez que tem muito a ver com a música. Por tudo isso tornou-se o objeto estranho, lírico e pessoal, que pude e quis fazer.
E o que deu Al Pacino a este projeto?
Basicamente, ele é o início de tudo. Depois de conhecer o Al Pacino, tive uma ideia que me pareceu interessante tentar desenvolver em torno de uma personagem, e que seria, na essência, para ele. Era apenas um esboço, um breve estudo dessa personagem, que era solitária, melancólica, mas também um pouco áspera.
Depois passei a ideia ao meu vizinho, Paul Logan, que escreveu o guião. E de resto, todo o filme se passa em zonas perto da minha casa, mesmo a serralharia onde o Manglehorn [Pacino] trabalha... Devo dizer que a experiência com ele foi simplesmente apaixonante, uma honra e, ao mesmo tempo, muito natural. É incrível, porque é um dos meus maiores ídolos daquele cinema que se fez nos anos 1970 e, neste caso, bastaria recordar o que ele fez em interpretações discretas e melancólicas, logo no início da carreira, como o Pânico em Needle Park e O Espantalho. Procurei aqui aproximá-lo mais desse tipo de personagens. Mas, no fundo, o que eu queria era uma oportunidade como esta para criar laços de amizade com um dos meus heróis...
Também houve um processo de construção com os outros atores?
Sim, pedi a cada ator para inventar uma história sobre este Manglehorn, e dessa forma tudo isto acabou por ser sobre as impressões que cada pessoa tinha, e que conduziram a uma romantização, a uma certa magia. Ou seja, a existência fantasmagórica de uma mulher por quem ele vive apaixonado, e a quem escreve cartas, é de um grande romantismo e ilusão.